Nécrologie publiée dans Política Operária N°88 (janvier 2003), revue « politique et théorique communiste » portugaise fondée en 1985, dirigée par Francisco Martins Rodrigues. (article en portugais)
Mansoor Hekmat (Zhoobin Razani) morreu com 51 anos em Londres a 14 de Julho de 2002. A constelação de organizações revolucionárias que ajudou a formar es- palha-se desde o Paquistão, a Turquia e o Iraque a parte da Europa ocidental e América do Norte.
Nascido em Teerão, Hekmat tomou-se marxista em Londres, onde completou uma pós-graduação em economia. Nos seus primeiros escritos, sobre a revolução iraniana de 1979, Hekmat defendeu que a burguesia nacional progressista era um mito e que toda a classe capitalista no Irão tinha interesse na dominação, na medida em que com ela extraía superlucros da exploração da classe operária iraniana, pelo que só restava ao proletariado lutar pelo fim do capitalismo. Fundou nessa altura a União dos Comunistas Militantes (ULM).
Em 1982, com os seus companheiros de organização, partiu para as regiões libertadas do Curdistão. Depois da fusão de várias organizações revolucionárias envolvidas na luta armada, fundou-se em 1983 o Partido Comunista do Irão, que elaborou um programa comunista, formulou os objectivos socialistas da classe operária, as características do Estado por que devia lutar e as reivindicações imediatas do proletariado e do povo, criticando os marxistas que se limitavam a lutar por reformas parciais por considerarem impossível qualquer mudança na sociedade capitalista.
As críticas que fez ao nacionalismo do KDP, a organização frentista que agrupa os vários grupos armados curdos, foram mal toleradas e levaram inclusive a confrontos armados e a acesos debates políticos. Atacado pelos reformistas e pela tendência nacionalista, Hekmat abandonou o comité executivo do partido para formar o Centro Comunista Operário e a Fracção Comunista Operária, inaugurando uma série de seminários de discussão e escrevendo longamente acerca das suas ideias. A grande maioria dos quadros do partido juntaram-se à Fracção e, em 1989, depois de os líderes da tendência nacionalista aceitarem as críticas, Hekmat foi eleito por unanimidade como membro do bureau político e secretário do CC.
A luta interna, porém, continuou e a Guerra do Golfo em 1991 deu lugar ao ressurgimento em força do nacionalismo curdo no interior do partido, defendendo a aproximação aos Estados Unidos contra o regime iraquiano. Hekmat demonstrou a natureza nacionalista e anti-operária dessa política.
Demitiu-se do partido, apesar de a maioria do comité central, quadros e membros o apoiar. Provocou assim a demissão de todos os seus adeptos, que formaram com ele o Partido Comunista Operário. As ideias políticas de Hekmat tiveram forte influência sobre a esquerda curda iraquiana e deram lugar ao surgimento do Partido Comunista Operário do Iraque.
* De Mansoor Hekmat publicámos na PO N°11 de Setembro/Outubro de 1987 o artigo « URSS: nem capitalista nem socialista? » Também no n° 5 da nossa revista (Maio/Junho de 1986) se encontra um dossier sobre a actividade do Partido Comunista do Irão.
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